“Quando escrevem sobre pesquisas,
alguns jornalistas mostram não conhecer bem
o papel que elas têm hoje nas campanhas políticas.
Curioso é que mesmo profissionais tarimbados costumam
revelar esse desconhecimento e não
apenas os jovens repórteres no início de carreira.”
alguns jornalistas mostram não conhecer bem
o papel que elas têm hoje nas campanhas políticas.
Curioso é que mesmo profissionais tarimbados costumam
revelar esse desconhecimento e não
apenas os jovens repórteres no início de carreira.”
Por Marcos Coimbra (*)
Em momentos iguais a este, de aproximação
das eleições, veem-se exemplos disso a toda hora. Como saem pesquisas
com muita frequência, a imprensa está sempre cheia de matérias que as
citam, nas quais se percebe a desinformação de seus autores sobre o que
acontece no quartel-general das candidaturas.
Não são todas as campanhas que conseguem,
mas todas que podem montam sistemas de acompanhamento dos humores do
eleitorado através de pesquisas. À medida que aumenta a importância do
cargo em disputa e sobe a capacidade de arrecadação, maior é o arsenal
de pesquisas próprias que mandam realizar, para uso de coordenadores e
estrategistas.
Faz tempo que as pesquisas quantitativas de
intenção de voto se tornaram apenas o pedaço visível desses projetos,
pois eles envolvem inúmeros outros levantamentos cujos resultados não
são divulgados ou comentados. Ou seja: o que se vê é somente a ponta de
um iceberg, cuja parte maior permanece submersa.
No mundo real das campanhas, grande
destaque é dado às pesquisas qualitativas, indispensáveis à formulação
de estratégias de comunicação. São elas que permitem entender as razões e
motivos dos eleitores, por que preferem um candidato em detrimento de
outros, o que esperam da eleição, o que não sabem e gostariam de saber
dos candidatos.
Os marqueteiros costumam olhá-las com mais
interesse que os resultados das quantitativas, cujo objetivo é medir
quantos pensam de uma maneira ou de outra, bem como identificar que
variações existem entre os segmentos (socioeconômicos ou geográficos) do
eleitorado.
As campanhas de Serra e de Dilma estão
fazendo pesquisas desde muito antes do lançamento oficial das
candidaturas. Seus partidos têm o hábito de pesquisar, possuem
institutos que tradicionalmente lhes prestam serviços e contam com
especialistas, internos e de fora de seus quadros, para assessorá-los em
sua análise. A esta altura do processo eleitoral, já fizeram alguns
(muitos) milhares de entrevistas e (várias) dezenas de discussões em
grupo, a técnica qualitativa mais empregada.
Ambos têm em mãos longas séries de
pesquisas em todo o país, estado por estado, sempre usando questionários
mais elaborados e detalhados que aqueles que se veem na imprensa. De
agora em diante, na reta final, essa massa de dados vai aumentar
exponencialmente.
Além da parafernália de pesquisas próprias,
as duas campanhas têm acesso a dezenas de outras, feitas por
correligionários e aliados nos estados, por entidades de classe e
empresas do setor privado. Não deve haver um só dia em que não chegue
aos comitês uma pesquisa nova.
Faz algum sentido imaginar que campanhas
assim organizadas e tão bem abastecidas tenham que esperar a divulgação
de pesquisas públicas para tomar qualquer decisão relevante? Que as
equipes de Serra e Dilma fiquem roendo as unhas na frente da televisão
para saber quem está na frente e quem atrás? Que só resolvam o que vão
fazer depois de ler no jornal o que disse uma pesquisa?
Pelo que escrevem alguns jornalistas,
pareceria que sim. Seus textos dizem coisas como “antes da pesquisa do
Ibope, Serra ia fazer….”, “agora com o Datafolha, Dilma decidiu….”, o
que equivale a supor que os candidatos foram inteirados de algo pela
imprensa. Que o vasto investimento de suas campanhas em pesquisas
próprias é inútil, pois o que contaria seriam as pesquisas hípicas (as
que mostram quais cavalinhos estão na frente) que todos conhecem.
Nas disputas eleitorais, as pesquisas
publicadas são irrelevantes como instrumentos de informação estratégica,
pois as campanhas grandes (e seus apoiadores) sabem muitíssimo mais que
aquilo que chega à imprensa e ao cidadão comum. O que não quer dizer
que sejam irrelevantes na guerra da comunicação, pois estar publicamente
na frente é melhor que estar atrás — e isso pode trazer diversas
vantagens a quem lidera.
(*)
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
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