A Igreja Católica do estado do Amapá, assustada com os constantes casos de corrupção envolvendo funcionários públicos e políticos da região, divulgou uma carta, do Conselho Diocesano de Pastoral de Macapá, manifestando-se contra a corrupção e contra a impunidade.
Na Carta, o Conselho Diocesano denuncia a morte de 26 bebês no início deste ano; o desvio de R$ 200 milhões da Secretaria de Educação; o ano letivo apenas para cumprir calendário e a perpetuação do atual prefeito mesmo com seis condenações por crimes eleitorais.
Carta do Conselho Diocesano de Pastoral da diocese de Macapá (AP)
A todos os irmãos e as irmãs da Igreja Católica e a todas as pessoas de boa vontade
Irmãos e irmãs caríssimos (as),
No dia seguinte à celebração da festa de São José, padroeiro da nossa diocese e do nosso estado, nos reunimos, com nosso bispo, no Conselho Diocesano de Pastoral.
É nossa obrigação pastoral compartilhar com vocês os clamores e as angústias das muitas pessoas que procuram nossas comunidades e nossas pastorais para dizer a dor, o descaso e a humilhação que sofrem.
É o clamor das famílias dos 26 bebês que morreram na maternidade pública entre os dias 26 de dezembro e 8 de fevereiro. A proximidade com o Natal nos fez lembrar outra matança de inocentes que aconteceu no tempo do nosso padroeiro, São José.
É o clamor das famílias que sofreram por causa do atraso do início do ano letivo e da precariedade de várias escolas, sem merenda e sem condições de funcionar de forma satisfatória. Isso prejudicou duplamente os alunos: pela falta de merenda e pela redução das aulas, que nunca serão repostas.
Não podemos esquecer que tudo isso aconteceu logo após um carnaval marcado por denúncias e escândalos pela má aplicação de um grande volume de dinheiro público, fruto dos nossos impostos e que agora faz falta em outros setores, bem mais importantes para a população.
Ainda mais grave, é a recente denúncia do Ministério Público a respeito de 200 milhões de reais que teriam sido desviados na área de educação e que devem ser somados aos que foram desviados na saúde, na construção do novo aeroporto e em várias outras atividades.
É inaceitável o calvário dos doentes que precisam de tratamento fora do estado ou de remédios caros e não estão sendo atendidos. Alguns acabam morrendo sem receber os mínimos cuidados. A morte anunciada, prematura, dolorosa e trágica do garoto Danilo, representa todos eles.
A situação se agrava nos municípios e comunidades do interior e entre os povos indígenas, onde os serviços de saúde, educação, transporte e segurança são precários e insuficientes e onde se multiplicam as denúncias de má aplicação de recursos, enquanto cresce o abandono.
Tudo isso nos indigna e, sobretudo, nos entristece saber que reina, no meio do nosso povo, a sensação da impunidade para os crimes de violência contra o patrimônio público: desvio de recursos, grilagem de terras, desmatamentos ilegais, poluição das nossas águas.
Ainda não foram punidos os crimes eleitorais das eleições municipais de 2008 e já estão bem adiantadas as articulações para as próximas eleições gerais. Serão os mesmos denunciados de hoje a disputarem os votos da população daqui a poucos meses?
É nosso dever pastoral e eclesial proclamar com firmeza: "Deus não quer isso, não!".
Estamos iniciando a Semana Santa, na qual celebraremos a vitória da vida sobre a morte de Jesus que foi condenado por estar sempre ao lado dos mais pobres a serviço da justiça do Reino de Deus.
A liturgia da Semana Santa e a meditação da Campanha da Fraternidade Ecumênica pedem a nossa conversão:
Em primeiro lugar, precisamos mudar nosso coração: não podemos ser omissos ou coniventes com o que vem acontecendo no Amapá, em prejuízo do bem comum da população. A vida tem sempre o primeiro lugar antes de riquezas e vantagens pessoais: não podemos servir a dois senhores!
Como diocese, devemos usar todos os espaços e ocasiões: celebrações, encontros, reuniões, estruturas e meios de comunicação, colocando-os a serviço da justiça, renovando sempre nosso compromisso de fidelidade aos mais pobres, aos excluídos e aos esquecidos. Não podemos calar em troca de benefícios e vantagens para nossas igrejas e comunidades. Não podemos ser omissos por medo de perseguição ou de retaliação.
Nossa missão de anunciar o Evangelho exige que sejamos porta-vozes da Palavra de Deus que nos convida a viver relações de amor e de fraternidade e, ao mesmo tempo, porta-vozes do clamor do povo, de seus lamentos e angústias, denunciando tudo que provoca violência e morte, sobretudo quando isso vem do poder público, obrigado a estar a serviço do bem comum.
Esta Semana Santa que iniciou com a memória do grito do povo dirigido a Jesus: "Salva-nos, Filho de Davi", nos levará a assumir o compromisso de fazer como Ele fez: pondo-nos a serviço de todos e dando nossa vida para a vida de todos.
Que Jesus, morto e ressuscitado nos fortaleça e nos acompanhe neste compromisso de sermos suas testemunhas até os confins da terra.
Irmãos e irmãs caríssimos (as),
No dia seguinte à celebração da festa de São José, padroeiro da nossa diocese e do nosso estado, nos reunimos, com nosso bispo, no Conselho Diocesano de Pastoral.
É nossa obrigação pastoral compartilhar com vocês os clamores e as angústias das muitas pessoas que procuram nossas comunidades e nossas pastorais para dizer a dor, o descaso e a humilhação que sofrem.
É o clamor das famílias dos 26 bebês que morreram na maternidade pública entre os dias 26 de dezembro e 8 de fevereiro. A proximidade com o Natal nos fez lembrar outra matança de inocentes que aconteceu no tempo do nosso padroeiro, São José.
É o clamor das famílias que sofreram por causa do atraso do início do ano letivo e da precariedade de várias escolas, sem merenda e sem condições de funcionar de forma satisfatória. Isso prejudicou duplamente os alunos: pela falta de merenda e pela redução das aulas, que nunca serão repostas.
Não podemos esquecer que tudo isso aconteceu logo após um carnaval marcado por denúncias e escândalos pela má aplicação de um grande volume de dinheiro público, fruto dos nossos impostos e que agora faz falta em outros setores, bem mais importantes para a população.
Ainda mais grave, é a recente denúncia do Ministério Público a respeito de 200 milhões de reais que teriam sido desviados na área de educação e que devem ser somados aos que foram desviados na saúde, na construção do novo aeroporto e em várias outras atividades.
É inaceitável o calvário dos doentes que precisam de tratamento fora do estado ou de remédios caros e não estão sendo atendidos. Alguns acabam morrendo sem receber os mínimos cuidados. A morte anunciada, prematura, dolorosa e trágica do garoto Danilo, representa todos eles.
A situação se agrava nos municípios e comunidades do interior e entre os povos indígenas, onde os serviços de saúde, educação, transporte e segurança são precários e insuficientes e onde se multiplicam as denúncias de má aplicação de recursos, enquanto cresce o abandono.
Tudo isso nos indigna e, sobretudo, nos entristece saber que reina, no meio do nosso povo, a sensação da impunidade para os crimes de violência contra o patrimônio público: desvio de recursos, grilagem de terras, desmatamentos ilegais, poluição das nossas águas.
Ainda não foram punidos os crimes eleitorais das eleições municipais de 2008 e já estão bem adiantadas as articulações para as próximas eleições gerais. Serão os mesmos denunciados de hoje a disputarem os votos da população daqui a poucos meses?
É nosso dever pastoral e eclesial proclamar com firmeza: "Deus não quer isso, não!".
Estamos iniciando a Semana Santa, na qual celebraremos a vitória da vida sobre a morte de Jesus que foi condenado por estar sempre ao lado dos mais pobres a serviço da justiça do Reino de Deus.
A liturgia da Semana Santa e a meditação da Campanha da Fraternidade Ecumênica pedem a nossa conversão:
Em primeiro lugar, precisamos mudar nosso coração: não podemos ser omissos ou coniventes com o que vem acontecendo no Amapá, em prejuízo do bem comum da população. A vida tem sempre o primeiro lugar antes de riquezas e vantagens pessoais: não podemos servir a dois senhores!
Como diocese, devemos usar todos os espaços e ocasiões: celebrações, encontros, reuniões, estruturas e meios de comunicação, colocando-os a serviço da justiça, renovando sempre nosso compromisso de fidelidade aos mais pobres, aos excluídos e aos esquecidos. Não podemos calar em troca de benefícios e vantagens para nossas igrejas e comunidades. Não podemos ser omissos por medo de perseguição ou de retaliação.
Nossa missão de anunciar o Evangelho exige que sejamos porta-vozes da Palavra de Deus que nos convida a viver relações de amor e de fraternidade e, ao mesmo tempo, porta-vozes do clamor do povo, de seus lamentos e angústias, denunciando tudo que provoca violência e morte, sobretudo quando isso vem do poder público, obrigado a estar a serviço do bem comum.
Esta Semana Santa que iniciou com a memória do grito do povo dirigido a Jesus: "Salva-nos, Filho de Davi", nos levará a assumir o compromisso de fazer como Ele fez: pondo-nos a serviço de todos e dando nossa vida para a vida de todos.
Que Jesus, morto e ressuscitado nos fortaleça e nos acompanhe neste compromisso de sermos suas testemunhas até os confins da terra.
Macapá, 28 de março de 2010, Domingo de Ramos.
Conselho Diocesano de Pastoral da Diocese de Macapá
Conselho Diocesano de Pastoral da Diocese de Macapá
Fonte: CNBB