Com o Domingo de Ramos se conclui a campanha da fraternidade, culminando com a sugestão de um gesto, que simbolize as boas motivações que ela foi despertando.
Desta vez o tema destacou a economia, e o lema advertiu que o dinheiro não pode usurpar o lugar de Deus.
Agora entramos na Semana Santa. Poderia parecer que é hora de esquecer o dinheiro, e pensar só em Cristo. Mas para nossa surpresa, em cada dia da semana o dinheiro comparece, mostrando como ele pode ser usado com intenções bem diferentes.
A liturgia da segunda-feira traz a narrativa do óleo derramado sobre os pés de Jesus, por Maira, que os enxugava com seus cabelos. Maria, irmã de Lázaro, enternecida de amor e de gratidão por seu Mestre. Judas, frio e calculista, fazendo suas contas, cotando o desperdício em “trezentos denários”. Instado, o Mestre toma posição, e acrescenta ao amor de Maria um preço ainda maior para o óleo que ela tinha derramado :serviria para a sua sepultura!
Na verdade, Jesus estava colocando critérios para o uso de dinheiro. Depende das causas, a serviço das quais ele é posto. Daí ele adquire o seu verdadeiro valor.
Na terça-feira o Evangelho descreve Judas, partindo para a traição, amparado nas aparências das boas intenções do seu ofício. “Pensavam que ele fosse comprar alguma coisa para a festa, ou dar alguma coisa para os pobres”. Na verdade, com os olhos fixos no dinheiro que lhe fora prometido, partia resoluto para a traição.
De novo, a destinação faz a diferença. Se o dinheiro serve para a festa da vida, ou para a ajuda aos pobres, ele é abençoado. Se usado para trair inocentes, ele vira perverso.
Quantos ainda hoje se valem das boas aparências das administrações, ou do seu ofício, para desviar dinheiro e impedir que ele seja colocado a serviço da vida.
Na quarta-feira o Evangelho mostra Judas negociando a traição. Acertou o preço em trinta moedas. Entenderam-se no valor da traição. Mas ignoraram o valor da vida, que não tem preço, e que estava sendo sacrificada em nome do dinheiro.
Na quinta-feira a liturgia destaca o contraste entre o amor total de Cristo, e a fria traição de Judas. O Evangelho observa que “o demônio já tinha seduzido Judas”, e suas ações eram inexoráveis. A fidelidade ao “contrato” de trinta moedas, eximia Judas da fidelidade ao amor gratuito do Mestre.
Quando na economia se instala o demônio da exploração, ela adquire uma lógica perversa, sacrificando vidas humanas em nome da inexorabilidade de suas “leis”.
Na sexta-feira santa, no final do solene relato da paixão do Senhor, comparecem, quem sabe tardiamente, Nicodemos e José de Arimatéia, homens de posses, trazendo uma quantia muito grande de perfumes, para ungir o corpo do Senhor morto. Se tivessem em tempo pago um advogado, ao menos para apontar as inúmeras irregularidades jurídicas do processo sumário contra Cristo, talvez o dinheiro deles teria valido mais. Quantas vezes o dinheiro acumulado perde oportunidade de estar a serviço da vida.
No sábado santo a liturgia se detém ao redor do túmulo, onde fora depositado o Senhor. Era um túmulo emprestado, provisório, destinado a testemunhar que o corpo nele depositado sairia de lá ressuscitado, para mostrar que a vida tem muito mais força do que a morte, quando impregnada do mesmo espírito que levara Jesus a morrer por nosso amor. Assim deveriam ser os empréstimos, para permitir que as pessoas saiam depressa da dependência que os explora. E não serem túmulos definitivos, de onde os pobres nunca mais conseguem sair.
O domingo de páscoa mostra o túmulo vazio, mas os corações cheios de alegria. Em vestes simples de jardineiro, ou de viandante, com um pouco de pão, Jesus restituiu a felicidade inaudita a quem tinha mergulhado na tristeza incomensurável. Com poucos recursos, mas com muito amor, é possível descobrir a verdadeira felicidade da vida, e a esperança na futura ressurreição.
Assim, em cada dia da semana santa, poderíamos nos deter na reflexão que o Evangelho nos sugere (www.diocesedejales.org.br) Associada à páscoa, esta campanha refaz o caminho de Emaús, onde podemos descobrir que o Senhor Ressuscitado caminha conosco, e se revela nos gestos de nossa partilha fraterna.